Editorial
Quando, no Ocidente, se fala de inclusão verificam-se, frequentemente, dois pressupostos. Em primeiro lugar, o pressuposto de que a inclusão está relacionada com os países chamados “em desenvolvimento” e que nos países tais como o Reino Unido ou os Estados Unidos tudo funciona bem. Em segundo lugar, o pressuposto de que a inclusão é sinónimo de deficiência.
A inclusão tem a ver com o desenvolvimento das sociedades que aceitam a diversidade. Não tem a ver unicamente com o que se passa nas escolas e nas salas de aula. Actualmente, existe um grande desencontro entre as práticas de sala de aula e o que acontece na vida real. Porque razão se há de esperar que todos os alunos leiam do mesmo modo quando, na realidade, isso não acontece? Porque razão existem escolas especiais e classes especiais, se não existe um mundo especial de adultos?
Em muitas sociedades Ocidentais existem grandes problemas relacionados com a inclusão. As atitudes racistas, os estereótipos relacionados com o género e pressupostos sobre as deficiências não surgem a partir do nada. Emergem de tradições muito conservadoras. Uma outra questão muito importante consiste na relação entre pobreza e insucesso escolar. Muitas crianças nos países do Ocidente estão em classes especiais pelo facto de serem pobres, por questões relacionadas com uma diferente língua materna ou com práticas educativas inadequadas.
Os movimentos internacionais deveriam orientar os seus recursos e aplicar as suas energias a debater as relações entre educação e sociedade. é extremamente difícil, por exemplo, sugerir soluções para o Burkina-Faso se não tivermos desenvolvido uma “pedagogia de possibilidades” que tenha uma forte base filosófica e teórica que se traduza em acção. Precisamos de transformar radicalmente o discurso da prática educativa e estabelecer a relação entre educação e sociedade, baseada nos direitos humanos, nas realidades sociais e nas necessidades dos alunos.
Sigamoney Naicker, áfrica do Sul