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Link: https://www.eenet.org.uk/enabling-education-review/enabling-education-6/newsletter-6-portuguese-translation/a-vida-em-kakuma-quenia/

A Vida em Kakuma, Quénia

Evans Mburu

O campo de refugiados de Kakuna está situado no noroeste do Quénia. Recolhe 72,000 refugiados oriundos, sobretudo, do Sudão mas também do Uganda, da República Democrática do Congo, da Somália, da Eritréia, do Ruanda, do Burundi e algumas pessoas de outras partes do mundo. Há 23 escolas primárias, 3 escolas secundárias e 5 jardins de infância. Os professores são escolhidos de entre os refugiados do campo. A formação dos professores é mínima. Um dos professores Quenianos em Kakuma, Evans Mburu, fala-nos do seu trabalho.

O “International Rescue Committee” (IRC), uma ONG que trabalha em Kakuma está a implementar o programa de educação especial. Tem uma equipa de pessoal refugiado que está a receber uma formação em serviço sobre educação especial. A equipa, com a supervisão de pessoal qualificado do Quénia, vai de escola em escola, avaliando os alunos que têm necessidades educativas especiais. Primeiro é feita uma observação informal; elabora-se um plano educativo individual informal e, em seguida, executa-se esse plano à medida que o pessoal adquire prática nas técnicas básicas de ensino.

A educação é a única arma válida para se reduzirem os conflitos sociais. Constitui, igualmente, um instrumento económico para combater a pobreza. O EENET tem aqui um papel a desempenhar.

O IRC trabalha, em colaboração com a Federação Mundial das Igrejas Luteranas, na formação de professores das classes regulares e iniciou duas classes integradas para alunos surdos. Numa das classes encontramos três nacionalidades. Desenvolveu-se uma língua gestual comum para ser utilizada como meio de comunicação.

Ocasionalmente, verifica-se uma luta entre clãs – mas os alunos e professores ignoram as diferenças entre clãs e trabalham na escola movidos pelo desejo de aprender. Os alunos com deficiência frequentam a escola, independentemente das lutas que venham a ter lugar. Ninguém é deixado para trás. Cada aluno, velho ou novo, quer estar na sala de aula.

Os estudantes com sorte são os que escapam da guerra sem feridas graves, quando ainda são novos. Trabalharam bem na escola. Os alunos com necessidades educativas especiais vieram para a escola apesar das reduzidas ajudas educativas, do clima difícil e da sua saúde debilitada.

A educação inclusiva impede a amargura e ajuda a lutar contra futuras perdas de vida humana.

Uma outra área da educação inclusiva consiste no treino de competências vocacionais que tem lugar em centros multi-usos. Os refugiados vêm para o campo com diferentes competências que ensinam aos outros, independentemente das raízes étnicas. Costura, produção de tapetes, carpintaria, tecelagem manual, bordados, trabalho em cabedal e crochet. Dá-se prioridade às pessoas com deficiência. O treino continua durante um período de nove meses, após o que os formandos são examinados nas suas áreas específicas. Os que se qualificam empregam-se nos mesmos centros multi-usos e são pagos à peça.

O EENET deve ser visto como um instrumento de informação e de troca e como um instrumento de coesão social.

Uma cena numa das salas de aula:
Alunos surdos Sudaneses, Etíopes e Somalis estão a aprender em conjunto numa classe integrada. O professor Somali tem cerca de 24 anos de idade e tem 22 alunos dos 8 aos 38 anos. Introduz a lição em língua gestual:”Bom dia! Estamos aqui para aprender em conjunto porque nós somos um”. Esta prática repete-se cada dia e, quando é adequado, reúnem-se todos os alunos numa única lição, tal como música, arte ou língua gestual. A classe constitui um todo interligado. As circunstâncias levaram-nos a estarem juntos. São refugiados mas a inclusão determina o sucesso da sua aprendizagem.

“Não interessa, na realidade, qual é a minha idade, ou em que classe estou. O que conta é “deixem-me experimentar”.