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Crianças soldados na Colômbia, América do Sul

Erika Páez

A Colômbia tem a maior percentagem de crianças soldados do mundo. Calcula-se que 11-16,000 crianças participem nos grupos armados na longa guerra civil que tem assolado a Colômbia. Erika Páez, coordenadora do “”Save the Children, UK”‘s Children and Armed Conflict”, fala-nos aqui daquelas crianças que abandonaram os grupos armados e que estão a tentar reconstruir as suas vidas.

As crianças que agarraram em armas estão envolvidas, quer directamente na guerra civil, como membros de bandos, como milícias urbanas, como grupos guerrilheiros ou para-militares, quer, indirectamente, como espias, informadores ou mensageiros. Estas crianças constituem cerca de um terço do número total de pessoas envolvidas directamente no conflito armado. A Colômbia tem uma população total de 42 milhões, dos quais 17 milhões são crianças, estando seis milhões implicadas, de variadas formas, no conflito.

Em 1997, foi criado o Instituo Governamental do Bem-Estar das Crianças e das Famílias a fim de organizar a reabilitação das crianças soldados e de promover a sua reintegração na sociedade. Em 1999, foram estabelecidos, em todo o país, centros especiais de desmobilização de crianças, com o apoio do “Save the Children, UK”. O programa tem hoje capacidade para receber 250 crianças que, de qualquer forma, tenham escapado ou que. a certa altura, foram capturadas. Está dividido em três centros de admissão, sete centros especializados e doze casas de protecção.

Desde 1999, foram apoiadas por estes centros especiais cerca de 700 crianças, algumas com nove anos. Uma vez que as negociações de paz foram interrompidas, o número de crianças que foram recrutadas aumentou e, ao longo do ano passado, o número de crianças soldados que necessitam de ajuda duplicou.

O problema não se resume, no entanto, à questão da guerra. A maior parte das crianças que inicialmente foram recrutadas vêm de ambientes familiares rurais, onde existe falta de escolas e um alto nível de iliteracia. Nos últimos cinco anos, a educação nas zonas rurais e nas pequenas cidades tem piorado. O orçamento para educação diminuiu e o número de pequenas escolas primárias (para 40-60 crianças) foi reduzido.

Muitas crianças, especialmente os rapazes, abandonam a escola nas zonas rurais porque se consideram crescidos demais. Os pais são, muitas vezes, relutantes em mandar os filhos para a escola por causa do pagamento das mensalidades e porque precisam que trabalhem em casa. Numerosas crianças ex-combatentes dizem que deixaram a escola por causa dos métodos de ensino.

Unicamente dois. de entre os 700 ex-combatentes que estão nos centros, tinha completado a educação secundária antes de ingressar no grupo armado; 40 por cento não sabem ler ou escrever e cinco por cento são deficientes como resultado dos ferimentos de guerra. As raparigas representam 30 por cento do total de crianças ex-combatentes.

Em Dezembro de 2002, uma nova legislação levou a considerar todas as crianças ex-combatentes como elegíveis para o apoio governamental nas áreas da saúde, educação, documentação e reintegração na sociedade. Noventa por cento destas crianças não tem documentação que possa provar quem são, ou de onde vieram. Sem um cartão de identidade, não podem ter acesso aos serviços de saúde e de educação e, assim, correm o risco da exclusão. Esta falta de documentação também afecta a reunificação familiar, uma vez que torna a procura das famílias mais difícil. Infelizmente, unicamente dez por cento, volta para as suas famílias alargadas.

Nos centros especiais, as crianças são admitidas num programa de educação depois duma avaliação inicial. O sistema de educação visa proporcionar-lhes uma educação formal e vocacional, de modo a que possam obter um emprego e tornar-se independentes.

Em cada centro existe um educador que está em contacto regular com a escola. Os educadores procuram elevar o nível de educação das crianças e dar-lhes uma nova perspectiva sobre as suas experiências de abuso, violência familiar, abuso sexual e descriminação. Deste modo, o círculo vicioso de trabalho infantil e de privação educativa pode ser quebrado. Ao nível nacional e internacional, é importante fazer campanhas pelo restabelecimento do processo de paz e parar o recrutamento de crianças nos grupos armados da Colômbia.

“Girls in the Colombian Armed Groups – a diagnosis: Let us dream”, de Erika Páez, foi publicado em Espanhol em Outubro 2002 pela Terre des Hommes (TDH Germany) e SC UK. Pode ser solicitado através da SC UK, Carrera 7 N. 32-85 de 302, Bogotá, Colômbia.
e.paez@savethechildrenuk.org.co and www.tdh.de
Existe um sumário deste livro em Inglês e em Alemão.